Minha vida anda cansada, porque eu a uso à exaustão. Eu a uso até ela virar mulambo, pano de chão, pois vida parada cria mosquito, é solidão. Quando a morte chegar, ela não terá nada a dizer ou reclamar, porque a vivo até ela cansar à exaustão. Minha vida anda poluída de dias, alegrias e vidas, porque eu a vivo, e não a deixo em casa deitada, moribunda, estagnada. Quando não estamos fazendo nada, vamos ao baile, ou ao espetáculo de vidas pela praça. Quero que minha vida seja esgotada à exaustão, na raça. Quero drená-la do corpo no filtro fino e tenso dos dias. Não tenho tempo para dias pequenos, pois a vida é imensidão na chapa. Não quero meu barco parado no cais, quero velejá-lo ao vento. Não quero minha vida enferrujada no ferro, quero ela engraxada nas dobradiças leves da alma. A solidão é uma cadeira, que não me cabe. Sou o pólen da flor, levado ao vento, pelo tempo dos dias famintos. As horas do meu corpo são impacientes, esquizofrênicas, pois jamais me assento. O único peso que carrego dentro de mim é a vida que levo. Não estou aqui para fazer pirraça com ela, quero é vinho transbordando a taça. Deixem a construção do mundo pros homens de negócio, pois ainda sou infância, vivendo de esperança sob o Sol das tardes. Minha vida vive sorrindo dela mesma, de tão simples que é. Ela é tão besta e bela que não cabe dentro da vida de um pardal. Minha vida é banguela, Cinderela, vive vivendo na boca dos poetas e viajando com as estrelas pelo universo da imaginação, pelas janelas. Ela está escrita em Cordel, vendido no cordão do Mercado Central. O mote dela é viver a vida, sem queixa, ainda que não saiba, nem entenda o porquê da vida. Meu coração é como bandeirola nas noites de São João, e voa feito balão multicor e frenético. Vida parada é poeira, deserto, desértica, mas a minha, é febre, é festa, é bela.
(Neto Karnissa)