Enquanto estamos vivendo no corpo, somos instintos, desejos e vícios, mas, quando encontramos a alma, somos virtudes, “sonhos de Ícaro” e Arte. O homem, que encontrou a alma, não suporta mais viver neste mundo denso, tenso, em guerra constante, opaco e violento. Ele vai às Artes, pois é a única válvula de escape que nos resta. O homem da carne vai ao suicídio, mas a alma vive na poesia da Arte. Os dias da carne são efêmeros, cansaço, velhos e velhice, carcomidos de tempo, mas os dias da alma são belos, sublimes e eternos, encanto e espanto, prantos e saudades. Os homens, que encontraram a vida, não suportaram viver o mundo dos homens mortos. Alguns ultrapassaram a vida e os séculos – Dante Alghieri -, outros suplantaram a eternidade e se fizeram luz, Cristo Jesus. O Pessoa foi à poesia, para não sucumbir ao degredo, e o Santos foi ao avião, para poder voar e amar. O mundo material cabe dentro da carne, mas os sonhos só fazem ninhos nas plumas da alma. Quincas Berro d’Água consome a minha carne, com a lâmina do Machado, dissolvida no trago. Lima Barreto lima meus dias feito o artesão do nada. Franz Kafka me ensina a olhar pros anjos, que invadem a cidade de Praga, e me mostra o limiar da alma. Franz Kafka me disse, que aquele que quer fugir do mundo dos homens contábeis, tornem-se besouros na Arte do ócio, para não ter que fingir a felicidade.
(Neto Karnissa)